Natureza dos exames

 

   O exame combina as t�cnicas da hierarquia que vigia com as da san��o que normaliza. � um olhar normalizador, uma vigil�ncia que permite qualificar, classificar e castigar. Estabelece sobre os indiv�duos uma visibilidade atrav�s da qual se diferenciam e se sancionam. Por isto, em todos os dispositivos da disciplina, o exame se encontra altamente ritualizado. Nele v�m unir-se a cerim�nia do poder e a forma da experi�ncia, o desenvolvimento da for�a e o estabelecimento da verdade [.. .].
   Do mesmo modo, a escola passa a ser uma esp�cie de aparelho de exame ininterrupto que acompanha em toda a sua extens�o a opera��o do ensino. Deixar� de ser cada vez menos um desses torneios em que os alunos confrontavam as suas for�as e passar� a ser cada vez mais uma compara��o perp�tua de cada um com todos, que permite ao mesmo tempo medir e sancionar [...]. O exame n�o se limita a sancionar uma aprendizagem, � um dos seus factores permanentes, subjacentes, de acordo com um ritual de poder constantemente prorrogado. Ora bem, o exame permite ao mestre, ao mesmo tempo que transmite o seu saber, estabelecer sobre os seus disc�pulos todo um horizonte de conhecimentos. Enquanto que a prova final de uma aprendizagem, na tradi��o corporativa, validava uma aptid�o adquirida a �obra-prima� autenticava uma transmiss�o de saber j� feita - o exame, na escola, cria um verdadeiro e constante interc�mbio de saberes: garante a passagem dos conhecimentos do mestre para o disc�pulo, mas toma do disc�pulo um saber destinado e reservado ao mestre. A escola passa a ser o lugar de elabora��o da pedagogia.

 

(MICHEL FOUCAULT, Vigiar e castigar, III, 2)